
"Talvez eu seja, simplesmente, como um sapato velho. Mas ainda sirvo, se você quiser. Basta você me calçar que eu aqueço o frio dos seus pés"
Lu.
Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.
Clarice Lispector.
"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
Clarice Lispector
Agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês. A noiva do cowboy era você além das outras três... Eu enfrentava os batalhões, os alemães e seus canhões. Guardava o meu bodoque e ensaiava o rock para as matinês. Agora eu era o rei, era o bedel e era também juiz. E pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz. E você era a princesa que eu fiz coroar, era tão linda de se admirar que andava nua pelo meu país. Não, não fuja não, finja que agora eu era o seu brinquedo. Eu era o seu pião, o seu bicho preferido. Vem, me dê a mão a gente agora já não tinha medo. No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido. Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim. Pra lá deste quintal era uma noite que não tem mais fim... Pois você sumiu no mundo sem me avisar e agora eu era um louco a perguntar: O que é que a vida vai fazer de mim?
Thay.